Texto escrito e publicado na Portal do Impacto - Phomenta
Por Ana Carolina Ferreira - Diretora da Partilha
Em um espaço tão rico de dicas sobre gestão, comunicação, voluntariado, inovação e captação de recursos para o terceiro setor, parece ter sido ousado falar especificamente sobre projetos sociais de educação. Nos últimos meses, tivemos um cantinho aqui no Portal do Impacto para conversar sobre como a Educação pode contribuir com o Desenvolvimento Social e oferecemos diversas dicas para as etapas de um projeto educacional. Relendo os textos, reforço ainda mais minha crença de que trabalhamos incansavelmente para transformar a realidade social das comunidades nas quais atuamos. Este trabalho precisa, cada vez mais, de uma estrutura sólida para que gere o impacto tão sonhado.
Ao longo dos últimos textos, conversamos muito sobre os bastidores de um projeto social. O que está “por trás” deste tipo de projeto, o que o antecede, o que é preciso cuidar para que os nossos beneficiários e nosso time de educadores consigam, de fato, ter experiências transformadoras e impactantes…? Falar dos bastidores foi uma forma muito simbólica e especial de representar o papel, a atuação e a importância de um trabalho efetivo e eficaz na gestão dos projetos sociais de educação.
Sem o trabalho de uma equipe focada, dedicada e competente, os artistas não brilham! Falo isso por experiência própria. No começo da minha carreira, além de educadora social e gerente de projetos culturais e educacionais, eu também era artista profissional e, por isso, essa comparação me parece tão pertinente. Para que um espetáculo aconteça, é preciso um trabalho hercúleo e consciente antes, durante e depois do show. Cada detalhe, cada escolha e cada ação fazem a diferença.
Assim é a gestão de projetos educacionais. Estruturar, executar e avaliar projetos é como compor uma obra, ajudar a realizá-la, comunicar aos envolvidos, gerir os recursos, envolver o público e, ainda, prover estratégias para que ela seja sustentável. Por isso, é tão fundamental conhecer o contexto, dialogar com dados oficiais e políticas públicas; fazer escolhas assertivas sobre o planejamento pedagógico; e, ainda, “cuidar” do time.
Depois de tudo isso, fecham-se as cortinas, mas o projeto não acaba! É preciso guardar tudo, “acertar” as contas com a equipe, fechar a bilheteria, programar a próxima turnê… No nosso caso, é necessário avaliar.
Porém, como quase tudo que conversamos aqui, avaliar não é uma ação pontual; na verdade, refere-se a um processo. A avaliação de um projeto social não começa na confecção do relatório final, mas em sua elaboração. Avaliar nada mais é do que fazer as perguntas certas para identificar se vamos chegar aonde nós gostaríamos.
Por isso, é fundamental ter clareza sobre aquilo que se quer avaliar. É imprescindível monitorar a trajetória.
A avaliação de um projeto social de educação deve contemplar, minimamente, três aspectos: execução, resultados e impacto. De nada adianta esperar o projeto terminar para observar aspectos que poderiam ser corrigidos pelo caminho. O GPS pode até nos indicar as melhores rotas, mas ele não é responsável pela viagem real. Por isso, ainda que seu planejamento esteja impecável, é preciso observar o caminhar, não é mesmo?
Para isso, há várias ferramentas que podem nos fornecer os indicadores de execução de um projeto. É preciso monitorar se o que eu disse que ia fazer está sendo feito. Se está, devemos compreender o que colabora para isso. E, se não está, o que é necessário ajustar. Podemos criar materiais novos ou usar o que está disponível para acompanhar se tudo vem ocorrendo conforme o previsto e para analisar quais variáveis interferem em nosso projeto.
Mas não basta monitorar a execução; é fundamental saber se tivemos os resultados pretendidos, já que é para isso que o projeto existe, certo?! A melhor e mais eficaz forma de realizar uma avaliação de resultados é ter clareza dos objetivos do projeto. Como transformar aqueles objetivos específicos em perguntas que trarão métricas para analisarmos os resultados? Se estamos falando de um projeto que oferece uma formação em informática, por exemplo, quais são os objetivos pedagógicos dessa formação? Como você gostaria que os beneficiários saíssem desse projeto? Quais conteúdos e habilidades serão aprendidos e desenvolvidos? Neste aspecto, o mais importante é garantir a coerência entre o que foi proposto, o que foi realizado e o que pode ser mensurado.
E, por fim, o aspecto mais desafiador de todos (e talvez o mais cobrado de nós): avaliar os impactos do projeto. Afinal, começamos essa série falando que os projetos sociais de educação são meios para que possamos transformar a realidade, impactar a comunidade e fazer a diferença na vida das pessoas que atendemos.
Primeiramente, é preciso ter aquela clareza sobre a qual falamos lá no início! Projetos têm foco e, sozinhos, não gerarão toda a transformação pretendida. Assim, é preciso entender em qual recorte social o projeto vai impactar, para então avaliar se o impacto foi gerado ou não. Vale lembrar que o impacto pode levar tempo para ser efetivo, então precisa ser mensurado a médio prazo e, por conta disso, é necessário manter o contato com o público beneficiado.
Mas preciso confessar algo para vocês: o mais desafiador desse tipo de avaliação é o investimento de tempo e recursos que ela exige e que, muitas vezes, não conseguimos realizar. De qualquer forma, precisamos, enquanto gestores de projetos educacionais e educadores, progressivamente adquirir conhecimentos sobre esse tipo de avaliação e ter no radar formas de implementar esses processos na instituição.
Pensando na construção deste texto, cheguei a três imagens: a imagem do “fechar as cortinas”, que já compartilhei com vocês, e mais outras duas – o espelho e o farol. Avaliar nada mais é do que ter um espelho e um farol sempre em vista. O espelho nos ajuda a ver o que estamos fazendo e quais resultados estamos alcançando. E o farol nos indica para o futuro. De nada adianta avaliar nosso impacto se não for para aprimorar o espetáculo.
E, já que estamos fechando essa primeira série, na qual tive a alegria de compartilhar algumas das minhas experiências como educadora, gestora e formadora de educadores sociais, peço licença para mostrar mais uma metáfora.
No terceiro texto, quando conversamos sobre a equipe do projeto, eu disse que a transformação social é fruto de uma longa colheita, para a qual preparamos a terra, adubamos o solo, escolhemos as sementes, plantamos e cuidamos. Avaliar projetos sociais de educação é ter um olhar presente, atento e crítico para tudo isso. Não é ser um burocrata que fica fechado atrás de planilhas, mas um lavrador, que observa o processo, “acode” quando as condições climáticas mudam, colhe com amor e cuida para que a próxima safra seja ainda melhor.
Que possamos usar técnicas e ferramentas que nos ajudem a construir a transformação com a qual tanto sonhamos, com amor, competência e melhoria contínua.